Olá, meus amigos. Eu não planejava postar de novo no Prosa depois de já ter publicado algo ontem, mas não puder deixar de compartilhar esse maravilhoso texto do radialista Jairo Reis sobre a idade do município, publicado na Folha Patrulhense de hoje.
Eu pessoalmente considero a data de fundação simbólica do município (e apenas simbólica por que isso é um processo de várias décadas) como o ano de 1760 em que a capela que deu origem ao nome da cidade foi fundada e ao redor da qual se desenvolveu a cidade, embora já houvesse algumas pessoas morando no local, pois ela deu início à autonomia política e econômica de Santo Antônio da Patrulha, não sendo mais necessário viajar longas distancias para efetuar registros em outras localidades. Ela era localizada onde hoje está a Pira da Pátria na Borges de Medeiros que recebeu uma placa homenageando a Capela. O grande problema em relação às datas não acaba se concordarmos que a fundação da Capela é o início de Santo Antônio como cidade por que vários historiadores citam datas diferentes. Affonso Penna Kury cita 1760 em Uma Visão Apressada, no entanto Juca Maciel diz que ela apenas foi “levada” a condição de Curato nessa data, tendo sido erguida em 1725 segundo seu livro Reminiciências de Minha Terra, mas é no livro de Ruben Neis, Guarda Velha de Viamão, direcionado especialmente para a origem da nossa cidade em que eu encontrei os melhores argumentos.
Pira da Pátria |
Placa sobre a Capela |
Se você quer entender melhor ou tirar suas próprias conclusões, eis aqui alguns trechos do livro pertinentes à questão. Primeiro sobre a divergência das datas e a impossibilidade da fundação da capela ser datada de antes de 1760:
“Houve sempre muita confusão quanto a época da construção da primeira Capela de Santo Antônio da Guarda Velha. Uma opinião muito generalizada, e ainda hoje muito repetida, diz que fora construída em 1725. E como consequência lógica desta premissa errada já se dizia que Santo Antônio da Patrulha, para ter capela em 1725, deveria ter seus inícios em época anterior a essa data [...].Donde surgiu esse engano tão generalizado? Pelo ano de 1820 Monsenhor Pizarro, do Rio de Janeiro, iniciou a publicação das Memória Históricas do Rio de Janeiro, obra alentada de 9 volumes e mais um de índice, na qual traz inúmeras notícias sobre as freguesias das diversas Províncias do Brasil. No volume quinto, publicado em 1822, Pizarro afirma que em virtude do Edital de 31 de agosto de 1760 foi criada em Capela Curada a de Santo Antônio (estabelecida pelos anos de 1725 no sítio, que chamam Guarda Velha, ou da Patrulha). O parênteses é do original. Há engano do autor, como passaremos a provar. [...]”
Só para evitar duvidas, antes da fundação da capela, a região na qual ela foi erguida era conhecida por Guarda Velha e integrava o território dos Campos de Viamão. Continuemos com o texto de Ruben Neis:
“Em 31 de Agosto de 1760, expediu uma Portaria, que julgamos ser o documento fundamental da história de Santo Antônio da Patrulha [...]:
Fazemos saber que por quanto somos informados de que Inácio José de Mendonça morador na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Viamão no Lugar da Guarda Velha, tem feito fabricar na sua fazenda uma Capela com a invocação de Santo Antônio, pela permissão que lhe demos em uma Portaria Nossa passada em quatro de setembro de mil setecentos e cincoenta e seis [...].”
Uma possível representação da capela num cartão postal de 1890. |
Com base nisso, podemos supor seguramente que a fundação da capela foi entre 1756 e 1760. O ano exato de fundação pode ser deduzido com base nas seguintes informações:
“Uma filha de Inácio, chamada Antônia Inácia Pereira de Mendonça, em 1884 legitimou seu casamento com Manuel Gonçalves Ribeiro. Na habilitação matrimonial consta que ela tinha mais ou menos 25 anos, que, portanto, nascera pelos anos de 1759. Não se encontrando seu registro de batismo, três testemunhas depuseram que a justificante Antônia Inácia de Pereira de Mendonça fora batizada com batismo solene pelo Padre José Carlos da Silva em o oratório, por não haver ainda igreja naquele tempo, vinha o dito Padre que então era vigário de Viamão, dizer missa, desobrigar, e administrar os mais sacramentos que se faziam necessários.
No registro de batismo de uma filha de Antônia Inácia consta que a mãe foi batizada na primeira capela que teve esta freguesia. No registro de batismo de outra filha se que a mãe foi batizada nesta matriz de Santo Antônio da Guarda Velha.
Por estas declarações pode-se deduzir que a capela construída por Inácio José de Mendonça, antes de ser benta solenemente para a Capela do Curato, já servia como oratório nas visitas que o vigário de Viamão realizava em Santo Antônio da Patrulha, pelos anos de 1759 e 1760, por não haver ainda igreja naquele tempo.”
Borges de Medeiros em 1880 |
Sendo assim, é impossível a capela ter sido fundada antes de 1756 e pelos documentos citados ela ainda estava em construção em 1760, mas devido a provável simplicidade de sua estrutura original ela foi concluída no final daquele mesmo ano, como confirma o seguinte trecho do mesmo livro:
“Na portaria de 31 de agosto de 1760 Dom Frei Antônio do Desterro nomeou primeiro Capelão da Igreja de Santo Antônio da Guarda Velha de Viamão o Padre Francisco Coelho de Fraga, pelo tempo de dois anos, pedindo-lhe ao mesmo tempo que benzesse a igreja. Em 23 de dezembro a Portaria foi registrada na Vara Eclesiástica de Viamão. Ainda em fins desse ano deve ter sido benta a igreja. Infelizmente não existe mais o Livro do Tombo da paróquia de Santo Antônio, no qual deve ter constado o termo de inauguração. Também não existe mais o primeiro livro de registros de batismos, pois o antigo existente inicia em 1773. O mais antigo livro de casamentos inicia em 1803, estando perdidos os anteriores. Mas o primeiro registro óbito é de dezembro de 1760, não sendo possível saber o dia por que a folha está mutilada. É, portanto, praticamente certo, que a Capela e o cemitério de Santo Antônio da Patrulha foram inaugurados entre 23 e 31 de dezembro de 1760.”
Com base em dois fatos confirmados por documentos, de que a capela ainda estava sendo construída em 1760 já funcionando no mesmo ano, tendo em vista o registro do óbito citado acima, podemos reconhecer seguramente o ano da inauguração da Capela de Santo Antônio como sendo 1760 e que a cidade estaria completando 253 anos de existência se a inauguração da capela fosse considerada sua fundação, mas isso já é apenas uma questão de opinião.
F. Essy
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