Saudade do cinema do seu Valmor
Lembro como se fosse hoje,
Filmes românticos e também de humor.
Mazzaropi, Grande Otelo e Oscarito
Teatro de rebolados com lindas mulheres,
Tudo era tão bonito.
Trocávamos gibis
E comíamos cocadas e pipocas,
Víamos prédios lindos na cidade
E também favelas e malocas.
A tristeza foi muito grande
O fogo atingiu a vila e as Pitangueiras,
Fazendo do nosso saudoso Cine Luz
Uma triste e enorme fogueira.
Queimou junto nossa alegria
Que acabou ficando para atrás,
Somente as namoradas
Pipocas e cocadas,
Não esqueço jamais.
Diolar
Esse poema do nosso colega Diolar sobre o
antigo cinema que funcionou em Santo Antônio durante a década de cinquenta
reflete como o mundo dentro da tela vem se mesclando a memória de nossas vidas,
sentimento esse compartilhado por um número cada vez maior de pessoas que
passaram a consumir mais cultura e entretenimento. Isso pode ser percebido
pelas sequências de filmes consagrados que antes demoravam quase uma década
para serem produzidos e que hoje são realizadas em pouquíssimo tempo atendendo
ao desejo ávido do público presente tanto no consumo de grandes produções
americanas quanto em iniciativas independentes, mas essa grande arte mundial se
mantém viva não somente pelo mercado, mas também pelo desejo atemporal que move
o ser humano na construção e consumo do mundo que ele criou, como salienta
Nicanor Vargas:
Certamente o desejo mais inato do homem é perpetuar suas ações e acontecimentos, principalmente de um modo dinâmico.
A preocupação é antiga, como podemos ver nos vestígios pré-históricos, os desenhos rupestres, com cenas variadas e progressivas de uma ocorrência, principalmente a caça.
Quando surgiu o cinematógrafo, muitos episódios de espanto ocorreram, atribuídos até a algo milagroso.
Na época do cinema mudo e, depois, o falado, não era incomum, nos interiores, alguns elementos da plateia se revoltarem e tentar intervir no que mostrava a tela.
A tecnologia está sempre avançando, já se cogita até no cinema virtual ou o holográfico, projetado no espaço, de uso domiciliar.
Além do entretenimento, serve para perenizar e reproduzir a vida, o que todos temos em mente, lutando contra a finitude da mesma.
Para concluir a postagem, deixo vocês com um texto do nosso estimado Joelson Oliveira. Um abraço!
CINEMA
Olhos brilhantes vislumbraram a tela enorme sobre o palco. A cena chocante mostrava a criança chorando na sarjeta enlameada, pés descalços, ar de abandono. Os soluços se multiplicavam pela sala. Não havia outro barulho, além de pequenas tosses espalhadas pelas fileiras.
Um estrondo se rompeu pelos cantos. Um caminhão de fuzileiros passou voando pela rua. Ouviu-se tiros ao redor, poeira e gritos desesperados. O povo humilde estava massacrado. O inferno havia retornado.
As rádios, as poucas que ainda estavam no ar, davam sinais de alerta e toques de recolher. A paz já não existia mais. A população não tinha mais forças para resistir. O massacre era inevitável.
Não havia lugar para a fuga, pois todos os cantos da cidade estavam ocupados pelas forças militares invasoras.
As mães choravam os filhos e a fome. A dor já não tinha mais tamanho. Junto ao muro caído de uma casa vi uma flor balançando na brisa empoeirada da guerra. Era vida entre os escombros, nem tudo estava perdido. Nisso desperta o rádio-relógio da minha cabeceira: assustado, descobri que estava na hora da minha caminhada.
Joelson Machado de Oliveira
P.S. - Problemas de formatação por limitação temporária das máquinas.
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