quinta-feira, 4 de abril de 2013

A Medalha de Lata


          Eu morava numa pequena cidade que todos os anos realizava uma corrida de carros pelas estradas de chão batido no interior. Quarenta anos atrás quando isso começou foi apenas uma brincadeira entre amigos, mas hoje em dia era um verdadeiro evento. Apesar disso os competidores ainda usavam carros comuns, mas o meu estava longe de ser como os outros. O amarelo horrível daquela caminhonete velha desbotava sob o sol enquanto eu me agarrava no volante para não abrir a porta e fugir dali. “Por que eu tinha entrado naquela furada do tio Claudio? Por que ele não veio correr naquela carroça cor de areia?” Não importava mais, o sinal soou e os carros começaram a derrapar pelo saibro engolindo uns aos outros. 

          O tio Claudio foi um dos primeiros a participar da corrida e desde então havia participado em todos os anos, mas conforme seus parceiros foram envelhecendo, adoecendo ou se acomodando a corrida passou a ser formada por rostos novos - e carros novos. Há cinco anos eu insistia para que o tio parasse de competir, mas ele se recusava, pois ainda se divertia – mesmo perdendo, no entanto esse ano ele soube de que havia virado piada na competição, como se fosse um velho caquético fazendo palhaçadas para entreter o publico. Ele ficou quieto durante dias até que chegou para mim e disse “Eu não vou mais correr na competição, mas você vai ter que ir no meu lugar esse ano.” 

          Minha primeira reação foi abrir a boca para soltar um deboche, mas no breve instante entre o que ele disse e o que saiu da minha boca eu pude perceber a seriedade daquele rosto amargurado de tristeza e não tive coragem de botar para fora nada do que eu tinha pensado, me limitando a uma bufada. “Mas como eu vou fazer isso?” Eu disse, finalmente. “Dirigindo.” Ele respondeu. “Em algo que dê para fazer isso”. Completei, mas eu nunca fui do tipo que batia pé muito tempo e quando vi já estava na caminhonete. 

“ - Eu não tenho como ganhar com esse carro. Isso é uma joça!” 
“ – Sim, realmente está péssimo.” Disse o tio com tanta sinceridade que quase foi engraçado.  
“ – Então de quê adianta eu correr se vou perder? Você quer me ver perder?” Eu disse em desespero.  
“ – Preste atenção. Você com certeza vai perder por causa do carro, mas não seria com isso em mente que você desistiria se pudesse, mas sim por achar que você não poderia ganhar e essa seria a sua desculpa para justificar todas suas covardias independente do carro que você tivesse.” 

         E foi nisso que eu pensei ouvindo as palmas quando cheguei por último na linha de chegada empurrando o carro. Oque teria sido uma humilhação, foi a glória de saber perder.


F. Essy

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