domingo, 3 de novembro de 2013

Parada ao Vento

por Brenda Fernández


         Foi numa parada de ônibus que ela deixou escapar a sua dor. Talvez sua maior decepção. Aquela senhora que carregava um amontoado de vidas nas costas, que já a deixava curvada, tinha na face um olhar congelado. Ela não procurava suas palavras no vento. Queria que aquelas malditas palavras fossem embora, ou que algum infeliz as catasse no chão. A Senhora das pernas curtas e do caminhar pesado pedia socorro para mim. Logo eu que naquele momento era apenas uma observadora, sem nenhum motivo aparente para qualquer envolvimento. “O Diego me dói na alma” era uma facada ganhada despercebida numa parada de ônibus. Era o desabafo da dor que não cabia mais no peito, e que agora, era minha também. Aquela dor que podia ser de qualquer um, mas foi ser logo nossa. Diego agora me doía na alma, bem no fundo, fazendo com que eu não esquecesse dessa dor tão cedo. Sem a menor curiosidade em saber de quem era esse nome, se naquela frase faltava uma palavra ou alguma pontuação, eu estava convencida de que Diego pertencia a mim também. Antes mesmo de eu pedir socorro pela feriada, a pequena senhora com o mundo nas costas, subiu no ônibus levando metade de sua dor, Diego, por um destino incerto. Deixando a outra metade, sua alma, neste texto.

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