sábado, 4 de janeiro de 2014

Nunca Tem Nada

Por Luiz Nicanor


     Minha esposa, filha de Reverendo da Igreja Episcopal, acostumada, nos anos róseos e iniciais de sua vida, a cumprir um ritual mais ou menos ameno, ou seja, frequentar a escola, ir ao culto aos domingos, participar das reuniões dos jovens da igreja e, literalmente, passar todo o fim de semana em casa, exceto nos horários de alguma celebração religiosa, sempre retruca, até os dias atuais, com a mesma frase quando somos convidados para algum tipo de compromisso: Nunca tem nada, quando aparece alguma coisa já tem outra.

     O curioso é que, mesmo já estarmos com o sexto neto, ela continua repetindo esta frase à qual, desde que juntamos os trapos, tem outra redação: Sempre existem vários compromissos esperando por nós, o máximo que podemos fazer é satisfazer alguns à meia boca ou selecionar aquele mais difícil de evitar ou escolher um dos de nosso maior interesse.

      Poderia descrever uma data destes percalços, e não seria exagero se eu afirmasse que isso ocorre quase semanalmente, sempre, mas sempre mesmo, deixando várias coisas como se nada dissesse respeito a nós, muito evento de nosso especial interesse procrastinado, visitas agendadas e não cumpridas, perdas de amigos sem podermos, pelo menos, cumprimentar os parentes, e assim poderia encompridar exageradamente a lista – sem um mínimo de atenção aos fatos.

     Reporto-me a um acontecimento recente, já disse que poderia até maçar o leitor com tanto exemplo. Óbvio eu não tentar difundir a impressão de só comigo ocorrer tais fatos. Sabemos que existem pessoas desesperadas para descobrir alguma coisa para fazer enquanto existem outras desesperadas para descobrir como evitar, sem maiores danos, diminuir a imensa e inevitável lista de compromissos, a maioria evidentemente não cumprida.

     Dia 10 de novembro de 2013, às 20hs, na Igreja Episcopal de Araranguá, foi comemorado o centenário de meu sogro, o Reverendo André Pinheiro de Vargas. O centenário foi em 3 de maio do presente ano, entretanto havia dúvidas sobre o local da homenagem, até a decisão de a mesma ocorrer em Santa Catarina.

   Inclusive, na data, houve o lançamento da obra Materialidade e Religiosidade – Os dois eixos da personalidade humana, de André Vargas da Silva, filho da Dona Eulália, irmã de meu sogro. Tive a honra de receber o livro, escrito com toda a alma e dedicação de quem leva a religiosidade a sério.

    Dia 10 de novembro, óbvio, foi um domingo e segunda-feira, como sempre, é um dos dias mais carregados da semana. Minha esposa e eu tentamos algum modo de comparecer, mas já havíamos agendado, com bastante antecedência, antes de sabermos a data do evento em Santa Catarina, um compromisso no sábado à noite em Porto Alegre e outro no domingo. A solução seria embarcar num ônibus em Porto Alegre mesmo e direto a Araranguá. Porém fomos forçados a passar em Santo Antônio, chegando aqui mais ou menos às 18hs.

     O André e o Marcos, meus cunhados, mesmo com ocupações na segunda-feira, foram e voltaram de madrugada. Outros familiares, duas filhas e minha sogra, ficaram lá e passaram mais ou menos às 11hs em Santo Antônio para uma visita, almoçando conosco e eu os encontrei às 13hs, meu horário de chegar a casa.

     Caso fossemos de ônibus e voltássemos com elas, já teríamos gerado um inevitável efeito bola de neve, e seria quase uma ida sem sentido, pois não tínhamos mais condições de chegar no horário da cerimônia.

    Na realidade, além dos dois filhos homens, (eram três, um falecido), das filhas, que são nove, apenas duas foram, mais a minha sogra, a maioria impossibilitada devido a compromissos na segunda-feira.

    O meu assunto de sábado era o lançamento de duas obras do conhecido poeta Armindo Trevisan, o qual completara 80 anos em 6 de setembro. Ele já havia feito dois lançamentos anteriores comemorativos a esta data e eu e minha esposa, por motivos de agenda cheia, nos comprometemos a comparecer na data do dia 9, sábado, às 20hs. Escolhemos esta data porque já havia um compromisso no domingo, também em Porto Alegre.

      No entanto, quem me conhece sabe, se eu prometo comparecer em algum evento, só com privação dos sentidos eu posso faltar. Mas isso é assunto para outros comentários.

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