quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Questão de Tempo

por Marcinha Peixoto


Eu não vi o tempo passar, acredito que eu deva ter parado entre um episódio de alguma série favorita e um livro com personagens cativantes. Eu tive tantos mundos para explorar que não notei o barulho que os ponteiros do mundo real faziam, esse som não fazia parte de mim. Foi ouvindo alguns sussurros do meu passageiro sombrio, que me fizera prestar atenção no relógio, que percebi quanto tempo havia se passado. Um, dois, três, dez anos e tudo parecia igual. As mesmas formas, as mesmas cores, o mesmo dormir e o mesmo acordar, como se eu estivesse inerte a tudo que estava a minha volta nos últimos anos, não vi a vida passar. Vi a conquistas dos outros e até comemorei com eles, vi famílias se formarem, vi profissionais serem promovidos, vi a terra girar mas não senti que com suas rotações o meu tempo era levado, anos esvaziados e eu alienada a uma estrutura imaginativa que eu mesma criara.

Tomei um susto quando percebi quanto tempo me resta, quanto tempo foi perdido enquanto viajava por mundos nunca realmente habitados. Dizem que sempre é tempo para recomeçar, mas quando o barulho do relógio começa a incomodar se percebe que tudo na vida é uma questão de tempo, Gandalf não estava certo quando disse que não importa  quanto tempo temos mas o que fizemos com o tempo que nos é dado. Às vezes quando percebemos que tudo deu errado, quando realmente acordamos para a vida, já é tarde demais, o relógio nunca parou, nós paramos. Por que paramos? Por medo, insegurança, fata de fé em nós mesmos? Medo de mudar ou de tomar um rumo errado? Sempre é mais seguro permanecer onde estamos, mas o mais seguro às vezes tende a nos atrasar, tende a não nos deixar seguir em frente, então ficamos presos no tempo como aquele personagem do filme que revive o mesmo dia sempre que o relógio chega a meia noite. E não é assim comigo? O mesmo dia, acordando e vivendo as mesmas coisas, as mesmas músicas, as mesmas imagens, tudo milimetricamente cronometrado. Me tornei prisioneira do tempo que eu resolvi ignorar, porém ele não me ignorou, é o que diz minhas rugas e minha certidão de nascimento.

Mas estou perdida, o que fazer agora? Como correr atras do tempo perdido? Dos anos vividos como uma princesa que dorme seu sono profundo até que algo mais interessante a desperte para vida? Como corrigir as lacunas deixadas na minha própria história? Em algum momento eu optei por não crescer, por não correr riscos, mas agora o barulho incomodo dos ponteiros me desperta para um futuro que precisa ser escrito pelas minhas próprias decisões e não mais pela própria vida que se encarregou de me trazer até aqui. Sinto medo, me sinto fraca e sem capacidade nem para dar o primeiro passo, perdida em meio aos sonhos que sonhei e aos pesadelos que precisei viver. 

Onde achar coragem para encarar o tempo que me resta? Não é possível viver uma vida cheia de pontos de interrogação, preciso achar minha próprias respostas.  Seria mais fácil se alguém me conduzisse a saída mais próxima, mas foi assim a vida inteira, preciso sair desse labirinto com minhas próprias pernas, usando da minha própria energia. É preciso saber para que lado ir e quanto tempo eu preciso para chegar ao outro lado, não sei se ainda suporto todas as dores e todas os obstáculos de uma nova vida, mas se eu não tentar ficarei presa nesse mundo que eu criei para não precisar crescer e jamais saberei como poderia ter sido se eu realmente tivesse prestado atenção no relógio, hoje para mim tudo é uma questão de tempo!

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