quarta-feira, 12 de março de 2014

O Pecado Sobre os Trilhos

Joelson Machado de Oliveira


      Por meados dos anos cinqüenta, ir a Porto Alegre, para as famílias patrulhenses era algo quase comum. Minha mãe, de vez em quando ia, juntamente com as suas irmãs, fazer compras ou consultar na capital.

     Passagem, quase obrigatória, era na Casa Schmidt, loja grande de tecidos, que ficava na Rua Voluntários da Pátria, esquina com a Avenida Cairú. Dali, depois de verem as novidades, rumavam para o centro.

      Em algumas vezes, principalmente nas férias escolares, eu ia junto. Gostava demais daquele passeio. Tudo era diferente e fantasioso para quem vivia no pacato Barro Vermelho.

       O deslocamento da Casa Schmidt para o centro da cidade se dava por bonde. O bonde São João. Embarcávamos no carro amarelado da Carris e íamos apreciando tudo, principalmente eu, que filmava com o olhar todas aquelas novidades.

      O bonde galopava sobre os trilhos Voluntários afora, espirrando pelas ventas, no seu andar irregular: mais rápido, às vezes mais lento, suave ou mais barulhento.

      Comentavam que a Voluntários da Pátria era zona de meretrício, paradouro de mulheres de vida fácil. Imaginem a curiosidade que me despertava, um menino lá pelos seus tenros anos.

      Enquanto o bonde andava ia olhando aquelas mulheres caminhando na calçada, recostadas em prédios antigos, trotando o desejo pelas esquinas, para os homens que encontravam.

     Certa vez uma mulher subiu no bonde. Parou ao meu lado e depois sentou no banco da frente. Corpo desenhado, vestido justo, branco com estampas azuis. Cheguei a ficar nervoso. Não tirei os olhos da mulher até chegarmos ao centro, no fim da linha. Tinha postura e cheiro diferente. Parecia um objeto proibido.

       Voltamos para casa quando já era noite. Custei a dormir com tamanha novidade. Como contaria para meus amigos e colegas que o pecado havia viajado comigo e sentado na minha frente?

2 comentários:

  1. Adorei!!! POA sempre desperta sentimentos de alguma forma. Me apaixonei pela cidade aos 16 anos, pelo centro, chei de lojas, de gente, de prédio. Como você falou, vim da pacata Santo Antônio, na época!

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  2. Impossível não se identificar com os textos do Joelson! ;)

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